Grupos britânicos promovem cultura de acolhimento a refugiados

Alarmados com o tratamento dado pela população e pelo governo a imigrantes que chegavam ao Reino Unido, voluntários criaram um movimento para conscientizar a comunidade e gerar ações e pensamentos positivos  

Larissa Zapata, Mayara Zago e Victória Silva

Na zona rural de Cambridgeshire, na Inglaterra, a escola pública Sawtry Village Academy, de ensino médio,  chama atenção por uma mobilização incomum às escolas da região: arrecadação de alimentos para um abrigo local de refugiados libaneses . A ação reuniu um grupo de estudantes e professores com o objetivo de promover na comunidade uma cultura de acolhimento a recém chegados. A escola é a primeira instituição do condado de Cambridge a fazer parte de um projeto internacional chamado City of Sanctuary (Cidade Santuária).

O City of Sanctuary atua em diversos países, mas tem presença mais forte no Reino Unido, onde desenvolve atividades em escolas, igrejas e centros comunitários em todo o país.  “Sentimos que é importante promover uma cultura de recepção e hospitalidade aos que pedem asilo no Reino Unido em busca de um lugar seguro porque sao perseguidos em seus países”, explicou Sarah Eldridge, representante do City of Sanctuary, em entrevista a “Olhares do Mundo”.

“Alguns britânicos sao resistentes aos imigrantes por uma série de razões. Talvez eles se sintam marginalizados pela pobreza, insegurança, etc. Nós tentamos lembra-los que os refugiados sofreram e precisam de um santuário. Tentamos promover ações e sentimentos positivos”, salienta.

O projeto City of Sanctuary nasceu há dez anos em Sheffield, no norte da Inglaterra. A ideia, segundo Sarah, veio de um reverendo da igreja Metodista, Inderjit Bhogal, que estava alarmado com o modo como as pessoas tratam os refugiados e, em especial, a maneira como o governo britânico os prende em centros de detenção. O projeto também foi uma resposta à representação negativa dos refugiados na mídia nacional e no discurso de alguns políticos. ,

Por meio de palestras e eventos em escolas e locais públicos, voluntários do projeto passam informações sobre as dificuldades enfrentadas em várias nações do mundo, como guerras e fome, e proporcionam aos moradores locais um encontro com refugiados e imigrantes.

“Uma de nossas principais atividades e aumentar a consciência sobre fatos relacionados à imigração. Um de nossos voluntários é um refugiado político que treina outros refugiados a falar sobre porque tiveram de fugir de seus países e como é ser um imigrante. Ele os leva às escolas, grupos comunitários e centros de serviço para contar histórias pessoais e responder questões”, conta Sarah. “Muitas pessoas sao bem positivas quando encontram um refugiado pessoalmente”.

Tony King, representante do projeto em Cambridge, conta que apesar da boa receptividade em relação ao movimento na cidade, já teve que enfrentar algumas respostas negativas quando buscou conscientizar os britânicos da importância da inserção dos refugiados e imigrantes na sociedade.

“Eu já encontrei muita ignorância, mesmo por parte das pessoas mais inteligentes, quando o assunto em questão é migração e refúgio. Essas pessoas continuam achando que os refugiados podem ‘voltar para onde eles vieram’. E que ‘os migrantes estão apenas abusando dos recursos do país de hospedagem’, mesmo que na verdade a realidade seja o oposto disso”, completa King.

As escolas sao prioritárias dentro do projeto porque, segundo King, existe uma facilidade muito maior em aproximar as crianças de uma cultura de acolhimento a estrangeiros do que adultos que já possuem uma visão formada, muitas vezes preconceituosa. “É difícil manter as pessoas engajadas em algo social. É por isso que o foco do projeto sao as crianças – quanto mais nova a pessoa, mais abertas e empáticas com a situação elas são”, comentou.

King ressalta que o projeto está convidando escolas a se tornarem ‘Escolas Santuárias’: locais onde as crianças podem ser ensinadas sobre migração e necessidades dos refugiados. “As crianças aprendem também como respeitar os migrantes e refugiados em sua chegada.”

Crianças refugiadas

Além do City of Sanctuary, outros projetos internacionais se empenham para que cada vez mais seja garantido o bem estar das crianças e jovens refugiados. O Refugee Child Backpacks (Mochilas para Crianças Refugiadas), por exemplo, promove a distribuição de mochilas com itens essenciais de sobrevivência, como comida, água, produtos de higiene pessoal e brinquedos. Na mesma linha, o projeto Refugee Council (Conselhos de refugiados), único no Reino Unido para crianças “desacompanhadas”, oferece atendimento, cuidados e escolas aos meninos e meninas que chegam ao país sem os pais.  A organização tem um setor para jovens,  o Youth Development Project (Projeto de Desenvolvimento Juvenil), empenhado em dar aulas de inglês, matemática e música e promover viagens para integração.

Ao todo são sete projetos no Refugee Council voltados para diferentes faixas etárias. Todos com o objetivo de tentar garantir aos jovens um recomeço. A demanda aumenta cada vez mais com a chegada de novos refugiados, mas o número de projetos também tem crescido para ajudar os refugiados a se sentirem “em casa”.

Hoje, segundo a ONU, há cerca de 22,5 milhões de pessoas ao redor do mundo em situação de refúgio por causa de conflitos em seus países. Segundo Sarah, a gravidade da crise, ao mesmo tempo em que estimula o crescimento de grupos de extrema direita contrários aos estrangeiros, também comove um número maior de europeus, que se sentem solidários e aceitam a imigração como uma responsabilidade pública.

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